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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Sedução, pra que te quero?




O que me motiva hoje a escrever sobre isso é uma indignação baseada em um comercial, que está sendo veiculado por aí. Já vi vários comentários sobre o mesmo, e hoje saíram notícias inclusive que o governo quer tirá-lo do ar. Bom, se já tiraram o Machado de Assis branco do ar, espero que no mínimo retirem este também.

O comercial é da marca de lingerie “Hope” (link: http://migre.me/5NxsX ), e desde que entrou no ar, tenho visto vários comentários sobre ele. Muitas pessoas (homens e mulheres) ficaram revoltadas com o comercial, pois ele em poucos segundos tenta reconstruir uma mulher baseada em esteriótipos que há muito tempo nós mulheres feministas lutamos pra combater, inclusive queimando os sutiens.

São três comerciais, todos protagonizados pela modelo Giselle Bündchen (o padrão perfeito da expressão do que é a mulher brasileira, loira, alta, magra e rica), mas deixando as ironias à parte, me pergunto, por que uma mulher com tanto dinheiro, se dispõe a fazer este tipo de papel? Tudo bem que esta modelo não prima exatamente pelo combate ao machimo nos comerciais que protagoniza, vide aquela campanha detestável da Sky (link: http://www.youtube.com/watch?v=VRwyi_Y27J8 ). Mas, a mulher já tem uma fortuna pessoal de 150 milhões de dólares. Ela poderia dizer “Não, obrigada, não quero participar de propaganda que difama as mulheres”. Mas não, vai lá e faz cada dia pior. Mas vou deixar a Gisele de lado, não quero me preocupar com ela, quero me preocupar sim com as milhões de mulheres (e homens) que assistirão este comercial e sem nenhum posicionamento crítico irão absorver o que está ali implicitamente colocado.

As três propagandas querem passar três idéias básicas: 1) Que as mulheres são descontroladas e sempre gastam demais; 2) Que mulheres não sabem/não podem dirigir. 3) Querem passar a famigerada idéia de que as sogras são as inimigas número um dos machões de plantão.

Em todos eles, a Gisele tem a difícil missão de contar ao cônjuge todos estes seus pecados (estourar o cartão, bater com o carro do marido, levar a mãe pra morar em sua casa). Para se safar da fúria do homem, ela precisa usar seus dotes “genuinamente brasileiros”. O que consiste em exibir o corpo escultural de lingerie e dizer, com um leve gingado, as “atrocidades” cometidas. “Você é brasileira. Use seu charme” é a mensagem-chave da publicidade.

O objetivo do comercial (além de vender as lingeries) é passar o estereótipo da mulher que, sem trabalho, acaba por descontrolar-se nas compras e gastar todo o dinheiro do casal – com o retoque do mito ‘Mulher no volante, perigo constante’ – a propaganda ainda reforça o ideário destinado à brasileira, a da sedutora inverterada, que sabe usar seu “potencial” e sua ginga rebolativa.

Ao mesmo tempo em que consagra o modelo da mulher-objeto, a propaganda desqualifica aquela que não carrega o modo sedutor de ser. Uma conversa sem performances de sedução – e com roupas – é tida como “errada”.
Este com certeza não é um caso isolado. A estereotipação de mulheres na indústria da propaganda é corriqueira e altamente discriminatória. No mundo dos publicitários, o sexo feminino é aquele destinado às tarefas domésticas (em comerciais de produto de limpeza) ou à satisfação masculina nas propagandas de cerveja, como mulher montada para satisfazer as necessidades dos caras, uma cerveja loira na mão e uma mulher loira na outra, igualando-as no mesmo patamar de necessidade.

O que me preocupa é fato de que, ainda hoje, as pessoas achem natural um comercial deste tipo ser veiculado e não verem “nada demais” neles.

Será que nós mulheres precisamos ser sempre sedutoras para conquistar ou para dizer algo? Precisamos ter sempre a imagem frágil, doce, cativante, passiva? Uma mulher ter suas próprias vontades, posicionamentos claros, coragem, inteligência, a caracteriza também como sedutora. Falo aqui não de sedução como um conceito machista, de agradar aos homens, e sim sedutor no sentido da atração afrodisíaca da inteligência, da crítica, da ação. Há algo mais sedutor que isso?