Liberdade
de expressão ou liberdade de opressão? No humor vale tudo?
Há quem diga que em piada vale tudo. E justifica o preconceito
dizendo: “É humor!”
Programas tipo “Zorra Total” da Rede Globo emitem piadas sobre
abuso sexual, incentivam a rir do pobre, de alguém que se ferra no metrô ou no trem lotado todos
os dias, de alguém que é bulinada nesses lugares, da
mulher feia, do negro, do gordo. Tudo vira motivo de piada. E o pior, os
trabalhadores que passam por isso, riem. Riem da sua situação de desgraça e
desconforto. Programas como esse não passam de
aberrações e deveriam ser extintos da face da terra.
Porém, não é nem a esse tipo de humor que me dedico a escrever
esse texto. Também não me refiro a programas como “Pânico” que revelam o mais
alto grau de tolice, apoiando-se em mulheres nuas e seminuas para conquistar
audiência a qualquer preço. Refiro-me a essa nova modalidade de humor chamada “Stand
up”, à moda do vale tudo no humor e essa leva de humoristas que posam de cultos
e inteligentes.
Nos últimos anos temos visto brotar um monte desse tipo de “humorista”,
que parecem levar muita gente às risadas. Eles fazem piadas que dizem: “Se uma
mulher feia for estuprada ela tem que aproveitar”, ou “O homem que estupra uma
mulher feia não merece cadeia e sim um abraço”. (Rafael Bastos). Ou aqueles que
dizem que não tem nada de mais em chamar um negro de macaco, como afirmou Danilo
Gentili. Esse tipo de gente nem deveria ser considerada comediante. O que esses
caras falam dá náuseas. E não tem nada de inteligente.
Criticar, fazer piadas, dentro de seu privilégio branco e
heterosexual é muito fácil. O difícil é ser criativo, não jogar com o senso
comum. É muito fácil fazer piadas com esteriótipos, desmontá-los
é muito mais difícil e para isso esses “humoristas” não teriam a menor
capacidade. É curioso que piadas sobre gays, mulheres, negros sejam contadas
por brancos, bonitinhos e heterossexuais. Esses humoristas não fazem
nada além de se privilegiar de sua posição na sociedade para oprimir outrem.
O problema passa a ser maior quando isso passa a influenciar as
pessoas. Piada racista, riem. Machista, dão gargalhadas. Homofóbica então,
acham muita, mas muita graça e ainda dizem que todos os
“politicamente corretos” são chatos e incovenientes e que todos que contestam
esse tipo de “humor” são mal amados, sem senso de humor, caretas, etc. Ainda
vemos muitas vezes negros que fazem piada consigo mesmo ou mulheres que riem de
sua condição e que acabam reproduzindo o preconceito do qual elas mesmas são
vítimas.
Sou daquelas que acredita que existem maneiras de se fazer rir
sem humilhações a quem quer que seja. Frases machistas que colocam as mulheres
no lugar de submissão, objeto, frases racistas que colocam o negro como alguém
de menor valor, ou homossexuais como alguém que não merece respeito. Tudo isso
não deveria levar o nome de piada, e sim de imbecilidade.
Quem está errado é em quem insiste no preconceito ou quem luta
contra eles?
Nesse
caso, opto pelo politicamente correta sim, careta também. Chamar um negro de
macaco não é e nunca foi engraçado.
Liberdade de expressão? Pra isso não! A liberdade termina onde
começa o direito e o respeito pelo outro. Temos limites sim, todos temos! Eu não
posso fazer tudo o que quero e nem falar tudo o que quero. Não podemos
confundir liberdade de expressão com liberdade de opressão. Esse tipo de humor
tem q ser extinto sim!
“É
só uma piada...” Isso significa o que? Que não é uma opinião?
Dizer que é só uma piada querendo que não tenha um real
significado é uma ignorância. O que esses caras fazem é política, pois qualquer
manifestação artística pode se expressar de uma maneira conservadora e
transformadora. Eles estão fazendo política e escolheram um lado, o da opressão
e do senso comum. E na boa, não tem nada de inteligentes. É o senso comum que
ri das suas piadas e isso deveria ser desconcertante para quem se acha
inteligente. Buscar a inteligência deveria ser fugir do senso comum.
Fica a dica de um documentário excelente sobre esse papo. Mostra
os dois lados, os dos “politicamente corretos” e dos humoristas de “stand up
comedy”.
Qual lado é o seu?