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terça-feira, 16 de abril de 2013


Liberdade de expressão ou liberdade de opressão? No humor vale tudo?


Há quem diga que em piada vale tudo. E justifica o preconceito dizendo: “É humor!”
Programas tipo “Zorra Total” da Rede Globo emitem piadas sobre abuso sexual, incentivam a rir do pobre, de alguém que se ferra no metrô ou no trem lotado todos os dias, de alguém que é bulinada nesses lugares, da mulher feia, do negro, do gordo. Tudo vira motivo de piada. E o pior, os trabalhadores que passam por isso, riem. Riem da sua situação de desgraça e desconforto. Programas como esse não passam de aberrações e deveriam ser extintos da face da terra.
Porém, não é nem a esse tipo de humor que me dedico a escrever esse texto. Também não me refiro a programas como “Pânico” que revelam o mais alto grau de tolice, apoiando-se em mulheres nuas e seminuas para conquistar audiência a qualquer preço. Refiro-me a essa nova modalidade de humor chamada “Stand up”, à moda do vale tudo no humor e essa leva de humoristas que posam de cultos e inteligentes.
Nos últimos anos temos visto brotar um monte desse tipo de “humorista”, que parecem levar muita gente às risadas. Eles fazem piadas que dizem: “Se uma mulher feia for estuprada ela tem que aproveitar”, ou “O homem que estupra uma mulher feia não merece cadeia e sim um abraço”. (Rafael Bastos). Ou aqueles que dizem que não tem nada de mais em chamar um negro de macaco, como afirmou Danilo Gentili. Esse tipo de gente nem deveria ser considerada comediante. O que esses caras falam dá náuseas. E não tem nada de inteligente.
Criticar, fazer piadas, dentro de seu privilégio branco e heterosexual é muito fácil. O difícil é ser criativo, não jogar com o senso comum. É muito fácil fazer piadas com esteriótipos, desmontá-los é muito mais difícil e para isso esses “humoristas” não teriam a menor capacidade. É curioso que piadas sobre gays, mulheres, negros sejam contadas por brancos, bonitinhos e heterossexuais. Esses humoristas não fazem nada além de se privilegiar de sua posição na sociedade para oprimir outrem.
O problema passa a ser maior quando isso passa a influenciar as pessoas. Piada racista, riem. Machista, dão gargalhadas. Homofóbica então, acham muita, mas muita graça e ainda dizem que todos os “politicamente corretos” são chatos e incovenientes e que todos que contestam esse tipo de “humor” são mal amados, sem senso de humor, caretas, etc. Ainda vemos muitas vezes negros que fazem piada consigo mesmo ou mulheres que riem de sua condição e que acabam reproduzindo o preconceito do qual elas mesmas são vítimas.
Sou daquelas que acredita que existem maneiras de se fazer rir sem humilhações a quem quer que seja. Frases machistas que colocam as mulheres no lugar de submissão, objeto, frases racistas que colocam o negro como alguém de menor valor, ou homossexuais como alguém que não merece respeito. Tudo isso não deveria levar o nome de piada, e sim de imbecilidade.
Quem está errado é em quem insiste no preconceito ou quem luta contra eles?
Nesse caso, opto pelo politicamente correta sim, careta também. Chamar um negro de macaco não é e nunca foi engraçado.
Liberdade de expressão? Pra isso não! A liberdade termina onde começa o direito e o respeito pelo outro. Temos limites sim, todos temos! Eu não posso fazer tudo o que quero e nem falar tudo o que quero. Não podemos confundir liberdade de expressão com liberdade de opressão. Esse tipo de humor tem q ser extinto sim!
“É só uma piada...” Isso significa o que? Que não é uma opinião?
Dizer que é só uma piada querendo que não tenha um real significado é uma ignorância. O que esses caras fazem é política, pois qualquer manifestação artística pode se expressar de uma maneira conservadora e transformadora. Eles estão fazendo política e escolheram um lado, o da opressão e do senso comum. E na boa, não tem nada de inteligentes. É o senso comum que ri das suas piadas e isso deveria ser desconcertante para quem se acha inteligente. Buscar a inteligência deveria ser fugir do senso comum.
Fica a dica de um documentário excelente sobre esse papo. Mostra os dois lados, os dos “politicamente corretos” e dos humoristas de “stand up comedy”.
Qual lado é o seu?