Esta semana assisti ao documentário “5X Pacificação”. Estava esperando
pelo filme por conhecer o talento dos diretores do "5X Favela", e por outro, “5X Pacificação” me instigou a curiosidade desde seu
primeiro anúncio, justamente por trazer a tona um tema tão presente na vida dos
moradores do Rio de Janeiro (sendo ou não das favelas), as Unidades de Polícia
Pacificadora (UPPs).
Conforme anunciado, o filme abordaria o tema das UPPs segundo o olhar
dos próprios moradores, porém, se o objetivo era que as UPPs fossem examinadas
de dentro, do ponto de vista dos que moram nas comunidades, essa não foi a
impressão que tive ao assistir o documentário.
O filme patrocinado pelo governo, teve a presença constante de elementos
da atual gestão da administração estadual, como o secretário de segurança José
Mariano Beltrame e o próprio governador, desta vez super solícito, falando em
diversas partes do vídeo, dizendo que é um frequentador assíduo da Rocinha.
Como ponto positivo no documentário, destacaria os diversos aspectos presentes
na vida dos moradores das favelas, como a ausência de um projeto de
empregabilidade para os jovens que deixam ou querem deixar o tráfico, a
ausência de políticas públicas para aqueles moradores, a falta de condições
dignas de vida, as dificuldades com transporte, a ausência de programas
sociais, fatos colocados pelos moradores e movimentos sociais que estiveram
presente no documentário, demonstrando que suas preocupações são nada menos que
o reflexo de um estado omisso e ausente.
Hoje há uma lamentável visão de que as “UPPS” são mil maravilhas. O
filme corroborou esta ideia, e a presença do governo no documentário veio para
reforçar a ideia de que a UPP é a solução para todos os males, sendo destacada
o tempo todo como uma grande aposta para a segurança pública no Rio de Janeiro.
Hoje observa-se uma naturalização na relação entre polícia e sociedade.
No decorrer do documentário quando tinha uma fala contraria a UPP, era motivos
de risos da platéia no cinema, formada pela classe média que se coloca numa
posição confortável e ignora o que acontece dentro das comunidades.
A UPP é fundamental sim, mas não para os moradores, não para garantir a
paz fictícia, mas sim se torna fundamental para o Estado. Hoje, longe de ser uma medida contra o crime e em favor das
populações pobres, a política de ocupação militar das comunidades faz parte de
uma estratégia de militarização das favelas e de criminalização da pobreza, com
o único objetivo de controlar aquelas áreas para garantir a tranqüilidade para
a Copa e as Olímpiadas.
Hoje já assistimos a um projeto de turismo para as favelas próximas à
zona sul. Na Rocinha e Santa Marta há o Favela Tour (como se visitar uma favela
fosse um grande safári) para os turistas dentro de um JEEP conhecerem as
ruelas. Além disso, é a classe A que hoje passa a frequentar seus espaços, que
fazem bailes dentro destas favelas com valores exorbitantes, fazendo daqueles
espaços, espaços privativos, apropriando-se da cultura ali produzida, para lucrar
e esvaziar de significado a cultura local, reforçando a ideia de que estas
comunidades deixem de pertencer aos próprios moradores.
No filme, observei o lado do governo, mas o que gostaria de verdade era
ver o lado do oprimido, aliás, ainda espero ver esse lado. Seria muito bom uma
proposta de um filme alternativo que pudesse contar o outro lado da história.
Um documentário que mostre a opressão feita pelas UPPs, que desminta a ideia de
que esta polícia é diferenciada, não repressora. Que
desminta o governo e a imprensa que divulgaram a ocupação militar na Rocinha, a
maior favela do país, como uma ‘libertação’ dos cerca de 100 mil moradores da
região. Que não ignore o histórico de abusos e violência que marcaram outras
ocupações (invasões), como a do Complexo do Alemão em 2010, na qual os
policiais deixaram um rastro de agressões e roubos e que continuam existindo
barbaridades como a que foi noticiada hoje, onde um PM matou um jovem de 18
anos dormindo dentro de casa.
As UPPs utilizam armamento de guerra, como fuzis, muitas vezes sem o
treinamento adequado para lidar com o equipamento. O que o programa “A liga”
ensaiou no episódio do morro da mangueira, considero que vale muito a pena
assistir:
Esse programa mostrou muito bem alguns aspectos da visão que moradores têm
das UPPs, além de mostrar relatos que também ressaltaram a falta de estrutura
nas favelas e a realidade das pessoas que vivem na comunidade.
Não precisa ser morador das favelas para se indignar com a condição de
vida dessas pessoas, com o descaso do estado, com as moradias precárias, com a
mudança na condição de vida das pessoas, com uma polícia que agora vem
instituindo a censura nas atividades de lazer dos moradores e um longo etc.
Dos olhos atentos aos desatentos, todos vêem que a implementação das
UPPs não acaba com o problema do tráfico, nem mesmo ameniza. Não vai à raiz do
problema que passa pela legalização das drogas com uma política eficaz de
combate ao tráfico. Enquanto a polícia prende e
exibe à imprensa os peixes pequenos, os grandes beneficiados pelo tráfico de
drogas estão bem longe das favelas. Políticos, juízes, a alta hierarquia da
polícia gozam de total impunidade.
E sobre a história de polícia boazinha, que agora dá "Bom dia" e se encontra na padaria...Ora! Não existe polícia não opressora
no estado burguês, a polícia existe apenas para reprimir pobres, negros e
trabalhadores. É luta de classes e a política é o braço armado do Estado, não
há como ser diferente.
O que há hoje
nas Comunidades é a troca da opressão do trafico pela opressão da policia.
Fico realmente me questionando essa
naturalização da relação polícia-sociedade que hoje existe e fico me
perguntando: Quando é que os excluídos deste
país ,terão o direito de não sofrer violência nenhuma? Nem dos ditos marginais nem dos representantes do próprio Estado?
Alguns dos moradores de favelas do Rio de
Janeiro, acredito que possuam uma sensação de melhora em sua segurança, na medida em
que nas áreas ocupadas pelas UPP’s, a presença dos traficantes e de sua forma
de violência realmente possa ter diminuído. Com toda certeza isso é um lucro
para as vítimas de sua opressão, reconheço. No entanto, a violência promovida
pelo Estado permanece. Uma forma de violência é menos pior do que duas. Mas
quando é que essas pessoas, não terão que suportar nenhuma violência?