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terça-feira, 27 de novembro de 2012

"A polícia agora é boazinha..."



Esta semana assisti ao documentário “5X Pacificação”. Estava esperando pelo filme por conhecer o talento dos diretores do "5X Favela", e por outro, “5X Pacificação” me instigou a curiosidade desde seu primeiro anúncio, justamente por trazer a tona um tema tão presente na vida dos moradores do Rio de Janeiro (sendo ou não das favelas), as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).
Conforme anunciado, o filme abordaria o tema das UPPs segundo o olhar dos próprios moradores, porém, se o objetivo era que as UPPs fossem examinadas de dentro, do ponto de vista dos que moram nas comunidades, essa não foi a impressão que tive ao assistir o documentário.
O filme patrocinado pelo governo, teve a presença constante de elementos da atual gestão da administração estadual, como o secretário de segurança José Mariano Beltrame e o próprio governador, desta vez super solícito, falando em diversas partes do vídeo, dizendo que é um frequentador assíduo da Rocinha.
Como ponto positivo no documentário, destacaria os diversos aspectos presentes na vida dos moradores das favelas, como a ausência de um projeto de empregabilidade para os jovens que deixam ou querem deixar o tráfico, a ausência de políticas públicas para aqueles moradores, a falta de condições dignas de vida, as dificuldades com transporte, a ausência de programas sociais, fatos colocados pelos moradores e movimentos sociais que estiveram presente no documentário, demonstrando que suas preocupações são nada menos que o reflexo de um estado omisso e ausente.
Hoje há uma lamentável visão de que as “UPPS” são mil maravilhas. O filme corroborou esta ideia, e a presença do governo no documentário veio para reforçar a ideia de que a UPP é a solução para todos os males, sendo destacada o tempo todo como uma grande aposta para a segurança pública no Rio de Janeiro.
Hoje observa-se uma naturalização na relação entre polícia e sociedade. No decorrer do documentário quando tinha uma fala contraria a UPP, era motivos de risos da platéia no cinema, formada pela classe média que se coloca numa posição confortável e ignora o que acontece dentro das comunidades.
A UPP é fundamental sim, mas não para os moradores, não para garantir a paz fictícia, mas sim se torna fundamental para o Estado. Hoje, longe de ser uma medida contra o crime e em favor das populações pobres, a política de ocupação militar das comunidades faz parte de uma estratégia de militarização das favelas e de criminalização da pobreza, com o único objetivo de controlar aquelas áreas para garantir a tranqüilidade para a Copa e as Olímpiadas.
Hoje já assistimos a um projeto de turismo para as favelas próximas à zona sul. Na Rocinha e Santa Marta há o Favela Tour (como se visitar uma favela fosse um grande safári) para os turistas dentro de um JEEP conhecerem as ruelas. Além disso, é a classe A que hoje passa a frequentar seus espaços, que fazem bailes dentro destas favelas com valores exorbitantes, fazendo daqueles espaços, espaços privativos, apropriando-se da cultura ali produzida, para lucrar e esvaziar de significado a cultura local, reforçando a ideia de que estas comunidades deixem de pertencer aos próprios moradores.
No filme, observei o lado do governo, mas o que gostaria de verdade era ver o lado do oprimido, aliás, ainda espero ver esse lado. Seria muito bom uma proposta de um filme alternativo que pudesse contar o outro lado da história. Um documentário que mostre a opressão feita pelas UPPs, que desminta a ideia de que esta polícia é diferenciada, não repressora. Que desminta o governo e a imprensa que divulgaram a ocupação militar na Rocinha, a maior favela do país, como uma ‘libertação’ dos cerca de 100 mil moradores da região. Que não ignore o histórico de abusos e violência que marcaram outras ocupações (invasões), como a do Complexo do Alemão em 2010, na qual os policiais deixaram um rastro de agressões e roubos e que continuam existindo barbaridades como a que foi noticiada hoje, onde um PM matou um jovem de 18 anos dormindo dentro de casa.
As UPPs utilizam armamento de guerra, como fuzis, muitas vezes sem o treinamento adequado para lidar com o equipamento. O que o programa “A liga” ensaiou no episódio do morro da mangueira, considero que vale muito a pena assistir:

Esse programa mostrou muito bem alguns aspectos da visão que moradores têm das UPPs, além de mostrar relatos que também ressaltaram a falta de estrutura nas favelas e a realidade das pessoas que vivem na comunidade.
Não precisa ser morador das favelas para se indignar com a condição de vida dessas pessoas, com o descaso do estado, com as moradias precárias, com a mudança na condição de vida das pessoas, com uma polícia que agora vem instituindo a censura nas atividades de lazer dos moradores e um longo etc.
Dos olhos atentos aos desatentos, todos vêem que a implementação das UPPs não acaba com o problema do tráfico, nem mesmo ameniza. Não vai à raiz do problema que passa pela legalização das drogas com uma política eficaz de combate ao tráfico. Enquanto a polícia prende e exibe à imprensa os peixes pequenos, os grandes beneficiados pelo tráfico de drogas estão bem longe das favelas. Políticos, juízes, a alta hierarquia da polícia gozam de total impunidade.
E sobre a história de polícia boazinha, que agora dá "Bom dia" e se encontra na padaria...Ora! Não existe polícia não opressora no estado burguês, a polícia existe apenas para reprimir pobres, negros e trabalhadores. É luta de classes e a política é o braço armado do Estado, não há como ser diferente.
O que há hoje nas Comunidades é a troca da opressão do trafico pela opressão da policia.
Fico realmente me questionando essa naturalização da relação polícia-sociedade que hoje existe e fico me perguntando: Quando é que os excluídos deste país ,terão o direito de não sofrer violência nenhuma? Nem dos ditos marginais  nem dos representantes do próprio Estado?
Alguns dos moradores de favelas do Rio de Janeiro, acredito que possuam uma sensação de melhora em sua segurança, na medida em que nas áreas ocupadas pelas UPP’s, a presença dos traficantes e de sua forma de violência realmente possa ter diminuído. Com toda certeza isso é um lucro para as vítimas de sua opressão, reconheço. No entanto, a violência promovida pelo Estado permanece. Uma forma de violência é menos pior do que duas. Mas quando é que essas pessoas, não terão que suportar nenhuma violência? 

sexta-feira, 5 de outubro de 2012


Pra mim, o debate na globo ontem foi um grande joguinho de cartas marcadas e terminou zero a zero, fraco em todos os lados. Nenhum candidato fez o Paes tremer. Vi apenas uma troca de pequenas ofensas administrativas como numa reunião de condomínio.
“Otário Leite” cumpriu bem o seu papel de reacionário, Aspásia Verde demonstrou sua incompletude, o Maia resgatou memórias de seu papai que poderia ter deixado quieto e o Freixo decepcionou com seu discurso limitado (embora não dê pra cobrar muito de um candidato reformista e um partido eleitoreiro que tem utilizado do vale-tudo pra ganhar eleição).
Senti falta da palavra “trabalhador” que não foi citada sequer uma vez, por nenhum dos candidatos. Tive a impressão de estarmos vivendo na propaganda eleitoral do Paes com alguns probleminhas administrativos, ou seja, num Rio quase perfeito onde o maior problema é o trânsito.
Parece que estamos vivendo num Rio de Janeiro onde só existe classe média. Onde não existe miséria, população nas ruas, falta de saneamento, pessoas morrendo nas filas dos hospitais, analfabetos funcionais sendo formados nas nossas escolas, muita corrupção nas obras públicas, pessoas sendo expulsas de suas moradias em nome dos grandes eventos e um longo etc...
Enfim, muito blá, blá, blá...
Faltou ser discutido um projeto de cidade, uma cidade onde a maioria da população não tem vez!
Sem dúvidas faltou um revolucionário. Ao final do debate do Rio não me restam dúvidas, o candidato vencedor foi Cyro Garcia! 

quinta-feira, 2 de agosto de 2012


Lutar e ser um crítico social ou ser um robô feliz?

Para alguns, as oportunidades de oposição ao capitalismo estão severamente limitadas. Outros parecem dizer que, se não podemos realmente transformar o sistema e se não dispomos ou somos incapazes de dispor de uma perspectiva por meio da qual criticar o sistema ou fazer oposição a ele, então é melhor relaxar e aproveitar. Viver a vida como ela é...
Consumir sem freio, se adaptar a realidade, conviver com a corrupção, admitir a exploração, aceitar o desemprego, vivenciar as desigualdades latentes. Tudo isso parece ser um problema sustentável, desde que eu esteja dentro do meu próprio carro, consumindo nos shoppings centers e suprindo alienadamente minhas necessidades vitais. Como sou feliz!
Violência? Ah, esse é só mais um problema que está aí e que eu tenho que enfrentar colocando grades na minha residência, alarmes por todos os lados e não andando tarde sozinho por aí. E já não sei até que ponto quero proteção ou liberdade...
Se vejo algo que me incomoda, o máximo que faço é ir atrás de fazer uma caridade. Vou a um orfanato, a um asilo de velhinhos ou vou dar esmolas para todas os meninos de rua pelos quais eu passar, para ver se assim limpo minha consciência...
Até que ponto estou disposto a mudar ou ao menos entender a sociedade que vivo? Para que preciso da História? Pra que entendê-la se o hoje me satisfaz?
Geralmente, quem pensa dessa forma sabe que nem tudo está bem, sabe que existe a pobreza, a opressão, a falta de moradia hoje crescente, uma classe trabalhadora cada vez mais explorada com novas formas de trabalho inseguro por contrato temporário, os baixos salários, a falta de educação e saúde pública para os 80% da população de dependem delas. Mas não parecem estar nem um pouco dispostos a transformar essa realidade, e não acreditam que um outro mundo é possível.
Papel cumprido. O papel histórico do capitalismo é destruir a história, cortar todo o vínculo com o passado e orientar todos os esforços e toda a imaginação para o que está a ponto de ocorrer. Manter seres humanos conformados é o lema. Carpe diem!!! O negócio é aproveitar, viver o dia como se fosse o último, ser feliz a qualquer custo. Esquecer tudo ao redor e viver numa bolha feliz como nas propagandas de TV.
Sinceramente, é mais fácil ser um robô feliz (ou infeliz). Mas se continuarmos assim, teremos um mundo onde poucos robôs conviverão com gente de carne e osso que só perde a cada dia com a apatia geral gerada por esse individualismo descompromissado que ainda é capaz de criticar os que desejam as mudanças.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Admirável mundo siliconado

Esta semana observamos mais um episódio da busca insana pelo padrão de beleza, pouco bonito, imposto às mulheres. Na baixada fluminense, uma enfermeira foi acusada de injetar silicone de avião em três mulheres, que foram internadas no hospital com hematomas profundos nas nádegas e lesões graves provocadas pela aplicação do produto.
Há pouco mais de um mês, acompanhamos outro caso, onde próteses de silicone para os seios, fabricadas na França, foram proibidas no Brasil por causar graves danos à saúde das mulheres, fazendo com que o governo interviesse no caso e permitisse a retirada das próteses pelo SUS.
A imprensa, em ambos os casos, poderia ter dito muito mais. Sempre tratam esses assuntos como mais um caso de engano ao consumidor ou um golpe de algum aproveitador. Esses assuntos nunca passam de uma reportagem que vá além das estatísticas. Nem a TV, nem as revistas e jornais discutiram o que deveria ser o verdadeiro tema das matérias: por que as mulheres se submetem a procedimentos cirúrgicos de risco, gastam um dinheiro que nem sempre está sobrando e precisam torcer pra ter sorte pra nada dar errado no antes e depois dos procedimentos.
            A procura por implantes de silicone tem aumentado, e tem sido feito por mulheres de todas as idades. Há mesmo meninas adolescentes, dos 12 aos 18 anos, recorrendo a esse tipo de cirurgia. O Brasil já é considerado o país do silicone. (nos seios, apesar de que nas bundas também já têm silicone). Ora, mas quem gostava de peitos não eram os norte-americanos? Pois é... Parece que importamos com facilidade para o Brasil o modelo americano que o falecido Millôr Fernandes chamou (preconceituosamente) de “vacas premiadas”.
Sem querer entrar no debate de como o padrão de beleza muda para adequar-se a produção, ou de como a indústria da beleza torna-se cada vez mais lucrativa. O fato de maior preocupação é saber que certas ideias são vendidas e aceitas sem nenhuma contestação.
A indústria da moda é perversa e consegue inculcar, com muita facilidade, a ideia de que todas as mulheres podem ser iguais, com determinado peso e medidas. Vendem a ideia de que todas meras mortais precisam ser iguais às atrizes e modelos. Ou seja, fazer com que, quem não vive da imagem pense e almeje ser igual a quem vive da imagem. Como podemos esperar que mulheres insatisfeitas como visual consigam sobreviver à propaganda – nem um pouco sutil- que deixa claro ser preciso ter corpo de modelo, rosto de atriz e cabelo de propaganda de shampoo, para conseguir seus objetivos?
            A verdade é que as pessoas que vivem do corpo e da própria imagem na mídia, não precisam de um doutorado pra nada. Elas não precisam nem de um diploma universitário. Nós, as meras mortais, que estudamos, trabalhamos, lutamos pra sobreviver e sofremos da opressão e exploração cotidianas, não podemos nos ocupar tanto com certas coisas.
            Ora, se não temos profissões que dependam da nossa aparência, se nos achamos bonitas do jeito que somos (como sempre dizemos) e se não achamos que nossa função no mundo é excitar os homens ou embelezar o universo. Por que somos tão influenciadas por essas ideias?
            Simples. O mundo em que vivemos prega que a mulher deve ser bonita acima de tudo. Que essa é a sua missão. Não é novidade para ninguém, mas é preciso não esquecer que estamos dentro de uma ditadura da beleza e quem muitas mulheres (e homens) compram as mentiras da mídia de que só é bonita quem é eternamente jovem, magra, loira, de cabelo liso, de preferência alta e de olhos claros. E paciência que a gente viva no Brasil e não na Suécia!
            E o dinheiro gasto? É cruel que nós, mulheres, que ganhamos menos que os homens, tenhamos que reservar grande parte do nosso orçamento para a “manutenção” da beleza.
            Aprendemos com nossas mães, ensaiamos com nossas bonecas. E todos os dias somos bombardeadas por imagens de como as mulheres devem ser, além da mensagem que nada é mais importante para a mulher que sua aparência. Somos patrulhadas se não fizermos o que se espera da gente (comprar, se esforçar pra ser bonita, cumprir aquela frase elitista de que “não existe mulher feia, existe mulher pobre”). Ou aquela ideia que a publicidade tenta impor como feminista o que é liberador para a mulher, ou seja cumprir exatamente o que a sociedade espera dela.
            A gente fica sempre horrorizado ao ver casos de problemas ocasionados por implantação de próteses, mortes causadas por lipoaspiração, injeção de medicamentos para “secar gordura” ou qualquer outro procedimento desses que visam buscar a beleza a qualquer custo ou na promoção. Mas esses casos não param de existir e ao contrário parecem ampliar-se a cada dia.
            Sabemos que existem pessoas que estão muito longe dos nossos modelos de vida. Mas mesmo assim, crescemos querendo ser como elas. Vemos suas imagens nas telas e nas capas de revista e nos sentimos péssimas por não sermos iguais. Será que não está na hora de nos guiarmos por outros modelos? De nos espelharmos em mulheres que não sejam apenas decorativas, mas que façam coisas importantes, como cientistas, políticas competentes, professoras, escritoras e inclusive atrizes (valorizadas pela técnica e não pela “beleza”)?

quinta-feira, 15 de março de 2012

Propaganda é a alma do machismo

Lamentável que em pleno mês de março, que marca a luta da mulher por direitos e contra a opressão, ainda vejamos propagandas como essa...
Tudo que vem desse tipo de imprensa não é de se dar valor. Esse jornalismo é o que há de mais sujo, vergonhoso e só serve para reproduzir preconceitos e a opressão. Como se não bastassem capas horrendas e fotos de mulheres peladas no seu interior, essa propaganda realmente passou dos limites do bom senso.
A Promoção do jornal Meia hora é chamada "troque a velha pela nova" onde junta-se selos para ganhar uma coleção de panelas. A propaganda mostra uma mulher nua em uma cozinha preparando comida numa clara alusão ao ato de trocar mulheres com maior idade por mulheres mais novas.
A propaganda estimula o tratamento das mulheres como objeto (que inclusive pode e deve ser trocado por outros objetos) e empregadas dos homens, cumprindo seu papel de mãe, dona de casa e/ou objeto sexual.
Infelizmente, esse jornal (em que discute-se tudo de uma forma fácil, porém sem nenhuma relevância), se dirige a parcela mais importante de nossa sociedade, os trabalhadores mais humildes. Só serve para colocar homens e mulheres em situações de maior opressão e exploração. Cumpre bem o seu papel.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Ser homem é:

Homens! Finalmente um post dedicado a vocês... Por favor, não levem para o lado pessoal. Os privilégios são de um grupo e não necessariamente individuais. O primeiro passo pra não ser preconceituoso é observar os seus privilégios, o privilégio que significa ser homem.
Ah, o objetivo do post também não é incitar uma guerra entre os sexos e sim uma reflexão conjunta. Afinal, a luta contra o machismo é de todos. Homens e mulheres!

Vou, então, citar alguns privilégios dos homens, vejam se concordam:

Ser homem é:
  •  Ganhar um salário maior simplesmente por ser homem;
  •  Não ser considerado “disponível” apenas por estar sozinho;
  •  Ser escutado porque tem algo interessante a dizer e não por ser atraente;
  • Não te dizerem que pra você ser um homem completo e realizado você precisa ter filhos;
  • Não ter que fazer essa técnica de tortura medieval comumente chamada de depilação e se não fizer ser chamado de relaxado;
  • Poder ter muito mais liberdade de sair quando criança/adolescente que sua irmã;
  • Poder sair à noite sozinho e se preocupar em ser apenas assaltado;
  • Não ter o risco de ser agarrado na rua, como se seu corpo fosse público;
  • Dar um “bom dia” e receber um “bom dia” e não um “bommm diiiiiiiia” com um olhar malicioso;
  • Não ouvir baixarias toda vez que sai de casa, sentindo que seu corpo está constantemente avaliado;
  • Poder cometer muito mais acidentes de trânsito e ainda assim ser visto como um bom motorista;
  • Não ter seus sentimentos menosprezados, porque, afinal, pra estar tão sensível, só pode estar com TPM;
  • Poder ter uma vida sexual ativa, com várias parceiras e ser chamado de “garanhão”, e não de “galinho”, “puto”, “piranho”, “vadio”;
  • Não ser induzido a fazer práticas abusivas e procedimentos cirúrgicos de inserção de silicone para “turbinar” o corpo para os outros avaliarem;
  • Não apanhar em casa, porque lá não haverá alguém que se ache mais forte que você no direito de te bater;
  • Acreditar que os outros homens possam ser seus amigos do peito e não adversários ameaçadores;
  • Poder beber até cair sem ser estuprado;
  • Não ter que ser denominado “Filé” como se fosse um pedaço de carne exposta num açougue;
  • Não ter semelhantes seus comparados a homens frutas como se estivessem num sacolão prontos a serem consumidos;
  • No trabalho, alguém não pedir pra você trazer o café;
  • Poder deixar de ser virgem o mais cedo possível, e no futuro, nem lembrar a idade que você tinha, porque nem teve tanta importância;
  • Não ter que se sacrificar pra ser considerado belo;
  • Não ser induzido a trocar de nome quando casar;
  • Não ser tratado como idiota, ou como alguém que não vai entender o que está sendo dito;
  • Não ter que ouvir piadas sobre coisas que fazem parte da sua realidade e te atormentam (o estupro, por exemplo);
  • Não ter que gastar tanto do que ganha em salões de beleza e cremes de beleza inúteis;
  • Poder envelhecer e ter seus cabelos brancos associados à beleza e charme;
  • Ter rugas associadas à experiência, vivência, história de vida e não ser considerado uma “uva passa”;
  • Poder ser sexualmente desejável, apesar da idade;
  • Poder se relacionar com alguém bem mais jovem sem que ninguém ache estranho ou olhe com desconfiança;
  • Ter 30 anos e ser considerado na flor da idade e não alguém que já deveria ter casado porque agora vai ficar difícil;
  • Ter uma ciência (feita por homens) para legitimar o seu comportamento animalesco como “natural” e “instintivo".
Ufa, como deve ser difícil ser homem...

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

No meu corpo eu mando e só toca quem eu quero!

“Eu adoro viver sem amarras, amo fazer sexo, gosto de dançar, me visto como bem entendo e adoro respeito! Eu sou dona do meu corpo, e ninguém vai me tocar sem consentimento!”


Depois do episódio acontecido no Reality Show da Rede Globo esta semana, que todos já estão cansados de saber, tenho lido comentários de revirar o estômago. E realmente fico me perguntando, até quando nós mulheres teremos de conviver com situações desse tipo?
Ao contrário do que coloca a sociedade machista, que induz as mulheres a verem as outras como inimigas ou uma ameaça constante, não vejo as mulheres como rivais, pelo contrário, quando mexem com uma eu me sinto ofendida também.
Falar de violência contra a mulher tem se tornado um assunto cada vez mais freqüente e o que antes se restringia a ambientes domésticos e locais obscuros, agora se faz em rede nacional! O fato é, há suspeita de que uma mulher foi violentada diante das câmeras da maior rede de televisão do país e impressionantemente o programa prossegue e a emissora sequer foi obrigada a retirá-lo do ar, por ter permitido a cena e não ter interferido no momento. 
Isso nos abre espaço para entender o que faz com que alguns pensem que o fato de uma pessoa sofrer um ato contra sua vontade, seja considerado “nada demais”, e ainda se torne alvo de brincadeiras.


Vimos também o machismo se expressar, partindo de homens e mulheres, com os comentários que tentavam justificar o abuso: "Ora, mas ela se insinuou!", "Dormiu? Vai tomar dormindo!", C* de bêbado não tem dono!". Pasmem! Vi comentários desse tipo. Só faltou o "Joga Pedra na Geni!"
Alguns ainda defendiam que a moça teria que sair do programa também, porquê ela seria "puta", "galinha", "vagabunda" e outros adjetivos depreciativos de baixo calão. Ora meu povo, o que está sendo julgado não é isso. Pouco me interessa o que a moça faz da vida, isso não é um julgamento moral.


O que mais me incomoda nessa história toda é o fato de as próprias mulheres se culpabilizarem com esses casos. Dificilmente uma menina assume uma violência sexual devido à vergonha, porque acha que ela própria motivou o crime. Quer maior crueldade que essa?
A mulher na condição de vítima ainda tem de se considerar culpada, pois foi educada a acreditar que um crime desses só é motivado por ela mesma, seja pela roupa que usou, pela atitude provocante que teve, pela vulnerabilidade da bebida, etc.
No caso do Reality Show, não foi diferente. A própria mulher, em depoimento, afirmou que não havia acontecido nada, mesmo com cenas de um vídeo que passou ao vivo, de onde partiram as acusações.  “Me chamaram para perguntar se tínhamos feito alguma coisa. Eu sei que não fiz, mas começo a pirar. Será que eu fiz? Será que não? Estou muito mal com isso”, disse a moça.
Incrível perceber como passamos de vítimas à culpadas num passe de mágica...


O fato é que nenhum homem tem o direito de tocar numa mulher sem o seu consentimento. Somos donas do nosso corpo! Fazer um ato contra a nossa própria vontade é crime! Pra quem sofre um abuso sexual pouco deve importar se houve uma penetração ou não. O que importa é o grau de crueldade que carrega um ato como esse, onde o corpo da mulher se torna um objeto saciável, uma boneca inflável pronta a oferecer prazer ao indivíduo do sexo masculino, sendo pra isso necessário o uso da força ou da falta de consciência da vítima.
A sociedade machista educa os homens a verem as mulheres como um pedaço de carne, resumida a peitos, coxas e bundas. Se a mulher for “gostosa”, estiver com pouca roupa e bêbada, rapidamente encontram um motivo pra justificar o assédio, ou neste caso, o crime.


Me entristece saber que sempre haverão diversas justificativas quando o assunto é a violência contra a mulher. Neste caso, vamos aguardar para ver o desfecho, certamente mais uma impunidade se aproxima. O cara foi expulso do programa, a audiência aumentou (ou diminuiu? pouco importa...), quase todos falaram no programa (inclusive eu, que odeio televisão!).
Mas, não, eu não tenho estômago para falar mais sobre esse programa, que pelos comentários que leio/escuto, ano após ano se degenera mais. Também não aguento mais esse nível de violência contra as mulheres e não suporto mais continuar ouvindo as mesmas e velhas justificativas machistas e criminosas...

As Mulheres não são estupradas porque são vagabundas ou usaram saia curta; elas são estupradas porque alguém as estuprou.





quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Cadê a discussão sobre Belo Monte?

As mobilizações nas redes sociais são bem legais, mas como tudo nesse meio internauta “twitterfacebookiano” parece ir e vir como vento. Algo que mexeu com todo mundo no final do ano passado, que fez até com que os menos politizados fizessem uma postagem ou dessem uma opinião, foi o bafafá sobre a Usina de Belo Monte.
O que impulsionou todo o envolvimento das redes foi um vídeo feito por artistas globais, representando o movimento Gota d’água. O vídeo trouxe entre vários rostos bonitos a pergunta “Você já ouviu falar na hidrelétrica de Belo Monte?” A pergunta foi feita pela atriz Juliana Paes e foi ouvida por 3,2 milhões de pessoas.
 É... Parece que a pergunta foi respondida. Boa parte da população, em especial a juventude brasileira desconhecia o assunto, ou não tinha uma opinião formada sobre o mesmo, e no mesmo instante. PLIM! Todo mundo estava contra a usina! Quanto poder esses artistas tem, hein? Enfim, puderam fazer uma coisa boa...

As falas em defesa dos índios, dos rios, da floresta amazônica tomaram conta, mas não durou muito... Logo depois, veio uma avalanche de vídeos contrários, contrários a esse posicionamento e a favor da usina. Vídeos que vieram contrapor os globais engajados. Como esse aqui, chamado “tempestade em copo d’água”.
Esse vídeo foi utilizado por uma galera que acha que pensa, ou que pensa de acordo com seus próprios interesses, e virou mais um fenômeno na rede. Começaram a rolar na internet, outros vídeos, feitos por estudantes playboys da engenharia de algumas universidades públicas.

Os vídeos pareceram ser feitos com patrocínio dos maiores defensores e beneficiários da usina, pelo governo, ou pelas construtoras. No mínimo. E vieram colocando os problemas ambientais como “exageros”.

Estes vídeos, feito por estudantes de engenharia de várias universidades, somados, passou o numero de exibições do vídeo dos atores. E pela harmonia de divulgação, organização, só os mais desatentos não desconfiariam que eles foram PATROCINADOS. Ou alguém acredita mesmo que os estudantes de engenharia se mobilizariam por alguma causa social? Difícil hein. Quem já fez movimento estudantil sabe que não é assim que a banda toca...

A Revista Veja, com seu orgulho reacionário, na mesma semana publicou como matéria principal. Adivinhem? Os boyzinhos e patygirls da Engenharia (eles se amam...).

Por fim, vieram os vídeos produzidos na própria localidade, portanto dito pelo não dito, fico sempre com quem tem conhecimento de causa, com quem sente na pele. E esses vídeos deram conta disso, mostram como a população local está sofrendo com o processo de construção da usina...

 Vídeos dos estudantes paraenses:
Esse também é dos paraenses:
Por fim este, que em especial sintetizou tudo muito bem. Mescla o discurso dos playboys queridinhos da Veja com imagens e depoimentos de quem realmente vive a realidade local. Esclarecedor! 




 Ontem, dia 03 de janeiro, houve mais uma (dizem que a última) desapropriação de terras para a construção da hidrelétrica. O Movimento Xingu Vivo, nome alusivo ao rio amazônico que hospedará a usina, contesta o tamanho da mega desapropriação - equivalente a 282 mil campos de futebol. “Essa decisão envolve uma área gigantesca e afeta a vida de milhares de pessoas. E isso não estava previsto no projeto original. Mesmo assim, o governo toma essa decisão de forma anti-democrática, sem sequer ouvir a população afetada”, diz a coordenadora do movimento, Antônia Melo. “Nós fomos pegos desprevenidos. A decisão foi tomada em meio aos feriados de final de ano, quando as pessoas estão desmobilizadas. Não houve uma única audiência pública para discutir essa questão.”

O fato incontestável é que as tribos indígenas estão sendo arrancadas, como mandiocas da terra. A usina de Belo Monte vai alagar, inundar e destruir 640 km² de floresta amazônica. Onze municípios estão na área de abrangência da usina e 640 km² serão alagados (área maior que Curitiba). Na zona rural serão inundados mil imóveis e 18 escolas e o número de desalojados pode chegar a 40 mil pessoas. A diminuição do nível do rio gerará grande impacto ambiental e social para a região da bacia do Xingu. Serão afetados direta ou indiretamente 21 comunidades quilombolas e 30 terras indígenas.

E o ápice da esquizofrenia, Belo monte produzirá quatro meses por ano, utilizando apenas 40% do seu potencial, isso classifica a hidrelétrica como um dos projetos brasileiros de menor eficácia energética...

O que observamos nessa briga de foice, é que foi grande a disputa ideológica em torno desse tema. mas  agora, o debate vai continuar?