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quinta-feira, 5 de abril de 2012

Admirável mundo siliconado

Esta semana observamos mais um episódio da busca insana pelo padrão de beleza, pouco bonito, imposto às mulheres. Na baixada fluminense, uma enfermeira foi acusada de injetar silicone de avião em três mulheres, que foram internadas no hospital com hematomas profundos nas nádegas e lesões graves provocadas pela aplicação do produto.
Há pouco mais de um mês, acompanhamos outro caso, onde próteses de silicone para os seios, fabricadas na França, foram proibidas no Brasil por causar graves danos à saúde das mulheres, fazendo com que o governo interviesse no caso e permitisse a retirada das próteses pelo SUS.
A imprensa, em ambos os casos, poderia ter dito muito mais. Sempre tratam esses assuntos como mais um caso de engano ao consumidor ou um golpe de algum aproveitador. Esses assuntos nunca passam de uma reportagem que vá além das estatísticas. Nem a TV, nem as revistas e jornais discutiram o que deveria ser o verdadeiro tema das matérias: por que as mulheres se submetem a procedimentos cirúrgicos de risco, gastam um dinheiro que nem sempre está sobrando e precisam torcer pra ter sorte pra nada dar errado no antes e depois dos procedimentos.
            A procura por implantes de silicone tem aumentado, e tem sido feito por mulheres de todas as idades. Há mesmo meninas adolescentes, dos 12 aos 18 anos, recorrendo a esse tipo de cirurgia. O Brasil já é considerado o país do silicone. (nos seios, apesar de que nas bundas também já têm silicone). Ora, mas quem gostava de peitos não eram os norte-americanos? Pois é... Parece que importamos com facilidade para o Brasil o modelo americano que o falecido Millôr Fernandes chamou (preconceituosamente) de “vacas premiadas”.
Sem querer entrar no debate de como o padrão de beleza muda para adequar-se a produção, ou de como a indústria da beleza torna-se cada vez mais lucrativa. O fato de maior preocupação é saber que certas ideias são vendidas e aceitas sem nenhuma contestação.
A indústria da moda é perversa e consegue inculcar, com muita facilidade, a ideia de que todas as mulheres podem ser iguais, com determinado peso e medidas. Vendem a ideia de que todas meras mortais precisam ser iguais às atrizes e modelos. Ou seja, fazer com que, quem não vive da imagem pense e almeje ser igual a quem vive da imagem. Como podemos esperar que mulheres insatisfeitas como visual consigam sobreviver à propaganda – nem um pouco sutil- que deixa claro ser preciso ter corpo de modelo, rosto de atriz e cabelo de propaganda de shampoo, para conseguir seus objetivos?
            A verdade é que as pessoas que vivem do corpo e da própria imagem na mídia, não precisam de um doutorado pra nada. Elas não precisam nem de um diploma universitário. Nós, as meras mortais, que estudamos, trabalhamos, lutamos pra sobreviver e sofremos da opressão e exploração cotidianas, não podemos nos ocupar tanto com certas coisas.
            Ora, se não temos profissões que dependam da nossa aparência, se nos achamos bonitas do jeito que somos (como sempre dizemos) e se não achamos que nossa função no mundo é excitar os homens ou embelezar o universo. Por que somos tão influenciadas por essas ideias?
            Simples. O mundo em que vivemos prega que a mulher deve ser bonita acima de tudo. Que essa é a sua missão. Não é novidade para ninguém, mas é preciso não esquecer que estamos dentro de uma ditadura da beleza e quem muitas mulheres (e homens) compram as mentiras da mídia de que só é bonita quem é eternamente jovem, magra, loira, de cabelo liso, de preferência alta e de olhos claros. E paciência que a gente viva no Brasil e não na Suécia!
            E o dinheiro gasto? É cruel que nós, mulheres, que ganhamos menos que os homens, tenhamos que reservar grande parte do nosso orçamento para a “manutenção” da beleza.
            Aprendemos com nossas mães, ensaiamos com nossas bonecas. E todos os dias somos bombardeadas por imagens de como as mulheres devem ser, além da mensagem que nada é mais importante para a mulher que sua aparência. Somos patrulhadas se não fizermos o que se espera da gente (comprar, se esforçar pra ser bonita, cumprir aquela frase elitista de que “não existe mulher feia, existe mulher pobre”). Ou aquela ideia que a publicidade tenta impor como feminista o que é liberador para a mulher, ou seja cumprir exatamente o que a sociedade espera dela.
            A gente fica sempre horrorizado ao ver casos de problemas ocasionados por implantação de próteses, mortes causadas por lipoaspiração, injeção de medicamentos para “secar gordura” ou qualquer outro procedimento desses que visam buscar a beleza a qualquer custo ou na promoção. Mas esses casos não param de existir e ao contrário parecem ampliar-se a cada dia.
            Sabemos que existem pessoas que estão muito longe dos nossos modelos de vida. Mas mesmo assim, crescemos querendo ser como elas. Vemos suas imagens nas telas e nas capas de revista e nos sentimos péssimas por não sermos iguais. Será que não está na hora de nos guiarmos por outros modelos? De nos espelharmos em mulheres que não sejam apenas decorativas, mas que façam coisas importantes, como cientistas, políticas competentes, professoras, escritoras e inclusive atrizes (valorizadas pela técnica e não pela “beleza”)?

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