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terça-feira, 27 de novembro de 2012

"A polícia agora é boazinha..."



Esta semana assisti ao documentário “5X Pacificação”. Estava esperando pelo filme por conhecer o talento dos diretores do "5X Favela", e por outro, “5X Pacificação” me instigou a curiosidade desde seu primeiro anúncio, justamente por trazer a tona um tema tão presente na vida dos moradores do Rio de Janeiro (sendo ou não das favelas), as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).
Conforme anunciado, o filme abordaria o tema das UPPs segundo o olhar dos próprios moradores, porém, se o objetivo era que as UPPs fossem examinadas de dentro, do ponto de vista dos que moram nas comunidades, essa não foi a impressão que tive ao assistir o documentário.
O filme patrocinado pelo governo, teve a presença constante de elementos da atual gestão da administração estadual, como o secretário de segurança José Mariano Beltrame e o próprio governador, desta vez super solícito, falando em diversas partes do vídeo, dizendo que é um frequentador assíduo da Rocinha.
Como ponto positivo no documentário, destacaria os diversos aspectos presentes na vida dos moradores das favelas, como a ausência de um projeto de empregabilidade para os jovens que deixam ou querem deixar o tráfico, a ausência de políticas públicas para aqueles moradores, a falta de condições dignas de vida, as dificuldades com transporte, a ausência de programas sociais, fatos colocados pelos moradores e movimentos sociais que estiveram presente no documentário, demonstrando que suas preocupações são nada menos que o reflexo de um estado omisso e ausente.
Hoje há uma lamentável visão de que as “UPPS” são mil maravilhas. O filme corroborou esta ideia, e a presença do governo no documentário veio para reforçar a ideia de que a UPP é a solução para todos os males, sendo destacada o tempo todo como uma grande aposta para a segurança pública no Rio de Janeiro.
Hoje observa-se uma naturalização na relação entre polícia e sociedade. No decorrer do documentário quando tinha uma fala contraria a UPP, era motivos de risos da platéia no cinema, formada pela classe média que se coloca numa posição confortável e ignora o que acontece dentro das comunidades.
A UPP é fundamental sim, mas não para os moradores, não para garantir a paz fictícia, mas sim se torna fundamental para o Estado. Hoje, longe de ser uma medida contra o crime e em favor das populações pobres, a política de ocupação militar das comunidades faz parte de uma estratégia de militarização das favelas e de criminalização da pobreza, com o único objetivo de controlar aquelas áreas para garantir a tranqüilidade para a Copa e as Olímpiadas.
Hoje já assistimos a um projeto de turismo para as favelas próximas à zona sul. Na Rocinha e Santa Marta há o Favela Tour (como se visitar uma favela fosse um grande safári) para os turistas dentro de um JEEP conhecerem as ruelas. Além disso, é a classe A que hoje passa a frequentar seus espaços, que fazem bailes dentro destas favelas com valores exorbitantes, fazendo daqueles espaços, espaços privativos, apropriando-se da cultura ali produzida, para lucrar e esvaziar de significado a cultura local, reforçando a ideia de que estas comunidades deixem de pertencer aos próprios moradores.
No filme, observei o lado do governo, mas o que gostaria de verdade era ver o lado do oprimido, aliás, ainda espero ver esse lado. Seria muito bom uma proposta de um filme alternativo que pudesse contar o outro lado da história. Um documentário que mostre a opressão feita pelas UPPs, que desminta a ideia de que esta polícia é diferenciada, não repressora. Que desminta o governo e a imprensa que divulgaram a ocupação militar na Rocinha, a maior favela do país, como uma ‘libertação’ dos cerca de 100 mil moradores da região. Que não ignore o histórico de abusos e violência que marcaram outras ocupações (invasões), como a do Complexo do Alemão em 2010, na qual os policiais deixaram um rastro de agressões e roubos e que continuam existindo barbaridades como a que foi noticiada hoje, onde um PM matou um jovem de 18 anos dormindo dentro de casa.
As UPPs utilizam armamento de guerra, como fuzis, muitas vezes sem o treinamento adequado para lidar com o equipamento. O que o programa “A liga” ensaiou no episódio do morro da mangueira, considero que vale muito a pena assistir:

Esse programa mostrou muito bem alguns aspectos da visão que moradores têm das UPPs, além de mostrar relatos que também ressaltaram a falta de estrutura nas favelas e a realidade das pessoas que vivem na comunidade.
Não precisa ser morador das favelas para se indignar com a condição de vida dessas pessoas, com o descaso do estado, com as moradias precárias, com a mudança na condição de vida das pessoas, com uma polícia que agora vem instituindo a censura nas atividades de lazer dos moradores e um longo etc.
Dos olhos atentos aos desatentos, todos vêem que a implementação das UPPs não acaba com o problema do tráfico, nem mesmo ameniza. Não vai à raiz do problema que passa pela legalização das drogas com uma política eficaz de combate ao tráfico. Enquanto a polícia prende e exibe à imprensa os peixes pequenos, os grandes beneficiados pelo tráfico de drogas estão bem longe das favelas. Políticos, juízes, a alta hierarquia da polícia gozam de total impunidade.
E sobre a história de polícia boazinha, que agora dá "Bom dia" e se encontra na padaria...Ora! Não existe polícia não opressora no estado burguês, a polícia existe apenas para reprimir pobres, negros e trabalhadores. É luta de classes e a política é o braço armado do Estado, não há como ser diferente.
O que há hoje nas Comunidades é a troca da opressão do trafico pela opressão da policia.
Fico realmente me questionando essa naturalização da relação polícia-sociedade que hoje existe e fico me perguntando: Quando é que os excluídos deste país ,terão o direito de não sofrer violência nenhuma? Nem dos ditos marginais  nem dos representantes do próprio Estado?
Alguns dos moradores de favelas do Rio de Janeiro, acredito que possuam uma sensação de melhora em sua segurança, na medida em que nas áreas ocupadas pelas UPP’s, a presença dos traficantes e de sua forma de violência realmente possa ter diminuído. Com toda certeza isso é um lucro para as vítimas de sua opressão, reconheço. No entanto, a violência promovida pelo Estado permanece. Uma forma de violência é menos pior do que duas. Mas quando é que essas pessoas, não terão que suportar nenhuma violência? 

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